As
engrenagens da máquina de aquisições do Itaú
Por
Carolina Mandl e Felipe Marques | De São Paulo – Valor Econômico –
10/5/13
Desde
que se fundiu com o Unibanco, transformando-se no maior banco privado do país, o
Itaú virou uma máquina de compras no sistema financeiro. De lá para cá, o Itaú
Unibanco fechou negócios com o banco BMG, com a seguradora Porto Seguro e com o
banco da varejista Carrefour. Agora, está em vias de abocanhar a unidade de
cartões do Citi, a Credicard, reforçando a liderança que tem nesse
segmento.
Enquanto
isso, apesar de ter entrado na disputa por todas essas compras, o Bradesco levou
bem menos negócios. Conquistou o Ibi, no Brasil e no México, e a operadora de
planos odontológicos Odontoprev. O placar logo desperta a questão: estaria o
banco da Cidade de Deus ficando para trás? Ou é o Itaú que está pagando caro
para manter a liderança do sistema financeiro?
Essas
dúvidas talvez só o futuro responda. Por enquanto, fica claro que, quando o
assunto é aquisições, Itaú Unibanco e Bradesco têm estratégias bem diferentes.
Embora invistam em linhas de negócio semelhantes, como crédito consignado,
cartões e imobiliário, ambos têm trilhado caminhos divergentes até o objetivo.
Se o Itaú vai às compras, o Bradesco prefere seguir "carreira
solo".
Operações
recentes mostram que o Itaú tem usado aquisições para fortalecer áreas que
estavam vulneráveis ao ataque da concorrência. É o que fez na parceria com o
banco BMG, criada para desenvolver um produto deficiente no conglomerado, o
empréstimo consignado. Já a compra da Credicard impediria o acesso dos rivais a
clientes do Itaú naquela operação.
Quem
já sentou à mesa de negociações com as maiores instituições privadas do país
relata que o fato de o Itaú ser um "banco de dono" -as famílias Setubal, Villela
e Moreira Salles - pesa para que o banco saia à frente nas aquisições. "É
Roberto Setubal quem se senta para negociar. Isso faz diferença. Ele é o dono,
sabe até onde pode ir", relata uma pessoa que já discutiu a venda de um ativo
com os dois. No Bradesco, o controle está nas mãos dos principais executivos do
banco, que conduzem as negociações.
O
Itaú também aceita estruturas menos rigorosas quando está interessado no ativo
de alguém, enquanto o Bradesco não abre mão do controle das operações, relatam
participantes de acordos anteriores. Tratativas do Bradesco com a Porto Seguro e
com o BMG azedaram justamente nesse ponto.
Outra
diferença, um pouco mais "esotérica", explica o apetite maior do Itaú: a cultura
corporativa. "O Bradesco é uma espécie de banco japonês no Brasil. O funcionário
entra e permanece lá por anos. É uma cultura que dá menos espaço para
aquisições", avalia um interlocutor.
Muito
mais ativo em quantidade de aquisições no começo da década passada, o Bradesco
tem reiterado a investidores que prefere crescer sozinho. Logo depois do anúncio
da criação do Itaú Unibanco, Lázaro Brandão, presidente do conselho de
administração do Bradesco, reuniu a diretoria para anunciar justamente isso:
dali para a frente, a expansão seria orgânica, conforme relato de executivo
presente na ocasião.
A
avaliação é que, desde a fusão Itaú Unibanco, não surgiu uma oportunidade
relevante de aquisição capaz de mudar a posição dos bancos no ranking -
principalmente dada a atual concentração do sistema financeiro. Sozinho, o
Bradesco acredita que pode crescer de forma mais barata e rentável, apesar de
mais lentamente.
É
por isso que, muitas vezes, os vendedores torcem o nariz para as propostas do
banco. "O Bradesco tem uma crença interna de que é capaz de entregar crescimento
pela via orgânica. Isso faz com que, no momento de colocar o preço, ele tenha
menos apetite", diz quem já negociou com o Bradesco.
Essa
foi a lógica que pautou o leilão pelo Banco Postal, que dá direito ao vencedor
de oferecer serviços bancários nos Correios. Por achar que não valeria ir além
de R$ 2,25 bilhões, o Bradesco perdeu a disputa para o Banco do Brasil. Leilão
acabado, o Bradesco começou a abertura de mil novas agências para repor essa
rede de vendas.
Não
foi só o Banco Postal que o Banco do Brasil levou recentemente. O banco ganhou
força nas fusões e aquisições com o objetivo de completar via iniciativa privada
a estrutura de instituição pública. É o caso da aliança que fez com a seguradora
espanhola Mapfre.
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